DW África: Jon Schubert
Esteve recentemente em Angola, onde acompanhou algumas das chamadas "exonerações implacáveis" de João Lourenço - nem os filhos de José Eduardo dos Santos foram poupados. Estas medidas apanharam-no de surpresa?
Jon Schubert (JS): Foi uma surpresa e não só para mim. Muitas pessoas com quem conversei ficaram muito surpreendidas com a rapidez dessas exonerações. No início da minha estadia, as pessoas ainda diziam que João Lourenço tinha de avançar com muita cautela, que tinha armadilhas de todo o lado e que, como o ex-Presidente ainda se mantém na direção do partido, ele tinha um espaço muito limitado para atuar. E durante a minha estadia essas exonerações começaram com uma rapidez extraordinária. Parece que o Presidente João Lourenço está disposto a usar os direitos, os poderes constitucionais que ele tem para atuar com mais independência do que se pensava ainda antes das eleições.
DW África: Aliás, no seu novo livro "Uma Etnografia Política da Nova Angola" conclui que João Lourenço, por ser demasiado fiel a José Eduardo dos Santos, provavelmente não iria fazer grandes reformas. E que seria preciso mais do que a mudança de Presidente para mudar as relações políticas, económicas e sociais em Angola e a maneira como o sistema funciona. Se escrevesse o final do livro hoje, a conclusão seria outra?
JS: Não sei se estou inteiramente arrependido do que escrevi. Acho que, na verdade, vai ser preciso mais do que a mudança de Presidente para mudar fundamentalmente as relações económicas e políticas em Angola. Mas as coisas que antigamente só se diziam mais ou menos às escondidas, à pequena voz, agora as pessoas já dizem abertamente "o legado do ex-Presidente". Assegurou a paz, mas a factura ficou muito pesada, como já me disseram. E isso é um alívio que é muito notável.
Fonte: Club K
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